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A Honda CB 1000R e o espírito Café Racer



Após o final da 2º Guerra Mundial, com a vitória dos aliados e o esforço de reconstrução da Europa, a geração recém-saída de uma adolescência vivida em anos de conflito começava a desejar maior liberdade individual e a construir caminhos próprios. Essa geração criou no final dos anos 50 o movimento beat, expresso na cultura hippie, com raízes na Califórnia, e nos beatniks, com foco na Inglaterra.

A ideia de rodar sobre duas rodas, meio sem destino, atrás de novos horizontes, começou a surgir por aí –para nunca mais desaparecer. Nos EUA, essa ideia tomou corpo entre grupos de rebeldes de estrada como os Hells Angels (assim mesmo, sem apóstrofe), e na Grã-Bretanha, os café racers. Essas tribos eram movidas pelo então nascente rock and roll

Os café racers, corredores de bar, numa tradução livre, se reuniam em cafés de beira de estrada nos arredores de Londres, com suas jaquetas de couro preto, topetes brilhantinados, correntes e tachas metálicas brilhantes. O mais famoso desses bares, o Ace Café, está aberto em seu mesmo lugar até hoje, e tornou-se um ícone para os motociclistas adeptos do estilo.

A diversão principal dos café racers era promover corridas ilegais de rua, em geral desafios contra o relógio, em um percurso previamente estabelecido.

Em parte para obter maior performance de suas motocicletas, a maioria delas composta por conservadores modelos ingleses como AJS, Norton, BSA, Ariel, Matchless, entre outras; e em parte para buscar individualização e exclusividade, os café racers modificavam radicalmente suas motos.

Além de alguma preparação de motor e carburação, as principais mudanças consistiam na liberação dos escapes, diretos e ruidosos, na adoção de guidões mais baixos ao estilo “morceguinho” ou semiguidões fixados diretamente nas bengalas da suspensão dianteira.

Aliviar peso era importante para melhorar os tempos e muitos componentes eram retirados das motos, como bagageiros, tampas laterais e mesmo assentos para garupa. Outros, como os para-lamas, eram recortados e reduzidos. Vez ou outra, uma carenagem de farol artesanal era adicionada, para um eventual ganho de aerodinâmica.

A tendência consolidou-se e expandiu-se pelo mundo. Mesmo com a dêbacle da indústria britânica de motocicletas, a onda persistiu. O lançamento, em 1969, da Honda CB 750F K0 foi a pá de cal para a maioria das marcas inglesas que foram, efetivamente, à bancarrota nos anos seguintes. Nunca uma moto causou tanto impacto no mercado mundial.

A CB 750F mudou tudo com seus quatro cilindros em linha, freio a disco e desempenho superior. Não à toa, foi eleita “a moto do século” por um grupo de elite de jornalistas especializados europeus.

Nos anos 1970, ao som dos Beatles e dos Rolling Stones, a onda máxima era uma sete-galo (gíria incorporada do jogo-do-bicho para o numeral 750) com banco rabeta, farol amarelo, escape 4 em 1 aberto, guidão Tomazelli, rodas de liga e para-lamas recortados… Exatamente o design celebrizado pelos café racers

Esse estilo voltou à tona nos anos 10 deste século, com a geração Y ou dos millenials, outra vez preocupados com o minimalismo e a individuação, além da busca pela autenticidade como forma de expressão.

A Honda CB 1000R

Incorporando toda essa herança de inconformismo e arrojo, a Honda CB 1000RCB 1000R chegou ao Brasil com um design tão revolucionário quanto elegante.

A sigla NSC, de Neo Sports Café, sintetiza a ideia: é algo novo, esportivo, e incorpora o espírito café racer –sem entretanto apelar ao saudosismo. A street fighter da Honda não é, diferentemente de outros lançamentos recentes do setor, uma moto retrô. A CB 1000RCB 1000R reúne o que de melhor a tecnologia japonesa tem a oferecer no segmento das super nakeds, a elementos estilísticos que apenas remetem à rebeldia de meados do século passado. São fáceis de reconhecer: grupo óptico frontal com DLR (daytime running light) em halo eletrônico que simula um refletor redondo, mas que é composto por dois poderosos faróis de LED superpostos; sinuoso escape 4 em 1 em inox com duas saídas superpostas de diâmetro diferente, para resultar em um ruído excitante e grave; para-lama dianteiro curto e rabeta curta e elevada, com placa em um para-lama em estilo “raspador” fixado à balança monobraço de liga- leve, que deixa exposta a belíssima roda de cinco raios em Y. O banco baixo e as pedaleiras ligeiramente recuadas completam a pegada esportiva.



O projeto começa em um chassi de viga única superior extremamente compacto e leve –integra o motor à estrutura–, que proporciona maneabilidade e leveza de pilotagem sensacionais. A moto é tão capaz de esgueirar-se no tráfego intenso quanto de traçar curvas em um track day com precisão cirúrgica.

A ciclística se completa com um conjunto de suspensões Showa inteiramente regulável, com o garfo invertido dianteiro assimétrico, no qual uma bengala atua como mola e a outra, como amortecedor. Na traseira, o monobraço de alumínio pivotado no motor é detalhe de projeto de engenharia sofisticado.

O inline four tem 141,40 cv a 10,5 mil rpm e deriva da superbike CBR 1000RR Fireblade de geração anterior. O elevado regime de potência máxima pode sugerir uma agressividade indócil, mas grande parte do torque de 10,2 kgf.m já surge em rotações muito baixas, elevando-se para atingir o pico a 8 mil giros. O piloto pode eleger entre três modos de pilotagem pré-programados, ou personalizar uma configuração exclusiva para si. Além da entrega de potência, a eletrônica combina o controle de tração, de freio-motor e os freios ABS. O painel é igualmente inovador, ao estilo blackout, com fundo azul escuro e dígitos brilhantes. O conta-giros é um achado arquitetônico: permite a leitura rápida e intuitiva do ponteiro analógico com a modernidade e a precisão do LCD digital. As funções são inúmeras, desde as básicas, como velocímetro, odômetros parciais e total, nível de combustível, autonomia restante, consumo instantâneo e médio e marcha em uso até shift light (programável), que indica o momento ideal para a troca de marchas em situações de altas prestações. Um conjunto de luzes coloridas com sequência programável permite leitura imediata em ação das condições de uso da moto.

A Honda CB 1000RCB 1000R reúne o vigor e a rebeldia das café racers com o melhor da tecnologia atual. É uma moto para quem vive o motociclismo com a alma.

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