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Pelo mundo de moto

Por: Ricardo Couto

Veja os documentos e procedimentos burocráticos para evitar problemas na fronteira ou com a polícia. Agências e guias especializados podem ajudar.


Viver uma grande aventura, cruzar países, conhecer locais exóticos, alcançar lugares inóspitos, no velho estilo Easy Rider, sempre foi um grande desafio para quem pensa um dia em colocar a moto na estrada. Você acha que sair de seu país e atravessar fronteiras é uma coisa muito complicada? Nada é impossível para quem tem espírito desbravador. Dá para chegar a qualquer lugar do mundo sobre duas rodas. Para isso, basta planejar e ter tempo disponível para atingir o seu destino.

De uns anos para cá, as viagens de longo percurso se tornaram mais frequentes no Brasil. Parte dessa onda pode ser atribuída aos avanços da internet, dos sistemas de mapeamento, ao celular e ao milagroso GPS, que além de nos dar a localização exata de onde estamos, informam sobre os principais serviços que podemos encontrar pelo caminho. Cá entre nós, está cada vez mais raro se perder por aí!

As rodovias também já não são tão precárias como antes e a infraestrutura de apoio, como postos de abastecimento, hoteis, campings e restaurantes, melhorou muito. Já não é mais aquela loucura que existia nos anos 60 ou 70, quando ir para um país vizinho era uma ‘surpresa a cada esquina’. Hoje é possível chegar muito mais longe e em menos tempo.

Fazer uma longa viagem internacional, por terra, exige um estudo detalhado, que pode demandar muitos dias ou até meses de preparação, dependendo da distância. Primeiro é preciso fazer um planejamento rigoroso, estudar bem a rota e prever o que vai encontrar pela frente. Para evitar surpresas, escolha para pontos de apoio –paradas para abastecimento, descanso e alimentação– as médias e grandes cidades, que contam com todo o tipo de serviço, inclusive bancos e oficinas. Os imprevistos também devem ser levados em conta. Por isso, é sempre legal ter um plano B, ter uma opção no caso de

alguma coisa der errado ou furar – inclua aí os problemas mecânicos.

Hoje, existe muita disponibilidade de mapas impressos, algo que era raro, e também de cartas digitais, como o Google Maps, e mapas virtuais que podem ser baixados no GPS e atualizados antes de partir, de acordo com os países ou o continente que se pretende atravessar. Com esses recursos em mãos, planejar a viagem fica bem mais fácil.


“A principal dificuldade para quem vai viajar pela primeira vez é o planejamento. Mesmo com a internet não há como saber exatamente o real estado das estradas, tipo de piso, e a frequência de pontos de apoio. Há outros fatores importantes que é preciso conhecer antes de sair, como localização de postos de combustível ou horários de funcionamento das aduanas. Na Cordilheira dos Andes, a temperatura cai muito à noite, por causa dos ventos gelados, e quem calcular mal o percurso e ficar sem abrigo pode sofrer hipotermia e correr até risco de morte. O motociclista tem que se preparar muito bem para a aventura. Levar barraca, sleep bag, kit de remendo de pneus, roupas especiais para frio e outros itens”, explica Renato Bicudo, ele mesmo um experiente viajante que compartilha sua experiência através da agência i-Bike Motorcycle Adventures, de São Paulo.

Calcule quantos quilômetros vai pilotar por dia, por quantas horas (o que deve levar em conta o seu preparo físico), e a maior distância que pode alcançar com apenas um tanque, de acordo com a autonomia da moto –para a viagem ficar bem relaxante, o ideal é fazer entre 300 km e 500 km por dia. No caso de viagem por locais desconhecidos ou pontos muito distantes entre si, o mais seguro é abastecer sempre que o nível de gasolina atingir a metade do tanque.

Antes de partir, faça uma manutenção rigorosa da moto, revisando o funcionamento de sistema elétrico e a mecânica. Inspecione todos os itens de troca mais frequente, incluindo a troca do óleo lubrificante. Cabos, velas, filtros e outras peças de reposição devem ser levados para troca em alguma emergência. Pesquise, por meio de sites na internet, a localização de revendedores e assistência técnica que atendam as motos da sua marca durante o percurso nas principais cidades. Leve junto um kit básico de ferramentas, que permita também troca e remendo de pneus – é bom ler o manual e praticar antes para não perder muito tempo na estrada. É indispensável adaptar um para-brisa para proteger do frio e do vento, e ter malas laterais para colocar as coisas

Se for pilotar à noite, faróis de milha e de neblina podem ajudar bastante nas tocadas noturnas.

Na hora de fazer a sua bagagem pessoal não esqueça de separar roupas adequadas ao clima que vai encontrar pelo caminho – a temperatura varia não só de acordo com a época do ano, mas também com a velocidade do vento, o deslocamento de massas de ar e a altitude. Não podem faltar o inseparável macacão de couro, luvas, botas, capa impermeável e um casaco específico para os dias mais frios. Se você for cruzar alguma montanha elevada, como os Alpes ou a Cordilheira dos Andes, pode colocar na lista um casaco de pele ou com forro duplo, próprios para dias típicos de inverno rigoroso, além de acessórios como gorro, cachecol, luvas especiais e outros.

Separe também alguns itens de uso pessoal, como um capacete confortável, que seja ventilado e isole bem a temperatura, óculos de grau e de sol, lenço para cabeça, protetores solar e de lábio, além de uma garrafa de água e alguns suprimentos, tipo barras de cereais, além de remédios e estojo de primeiros socorros. Não esqueça de levar os cartões de viagem, do seguro da moto, do seguro de viagem (assistência médica), de crédito e o prático e insubstituível celular.

“Na Europa, é exigido um seguro para despesas médicas. Nos países do Mercosul é aconselhável ter esse documento, não só por uma questão legal, mas também por segurança, em caso de problemas de saúde ou acidente. Um atendimento médico ou internação pode sair muito caro no exterior. É importante, para quem sai do Brasil, tomar uma série de precauções”, alerta Luiz Vergani, diretor da agência de viagem Apex Travel (leia mais no boxe), especialista em turismo de moto.

Ter todos os documentos em mãos é indispensável, pois a falta de um deles pode impedi-lo de entrar em algum país.

Além do Certificado de Propriedade da moto – que deve estar com IPVA, licenciamento, seguro obrigatório em ordem – e da Carteira de Habilitação dentro do prazo de validade, não esqueça da Carteira de Identidade, Passaporte com vistos de entrada (em geral, no Mercosul, não é pedido), Carteira Internacional de Habilitação e de Vacinação, Carta Verde (seguro de assistência médica) e uma procuração de cessão do veículo registrada em cartório se você não for o dono da moto. A falta dessa carta poderá melar a sua viagem, obrigando-o a voltar da fronteira para casa.

“A habilitação brasileira é aceita em vários países, mas é aconselhável levar a permissão internacional de dirigir, que pode ser pedida no site do Detran e vem com os seus dados traduzidos em alguns idiomas. Esse documento evita uma série de burocracias e problemas, como no caso de acidentes, que exigiria uma tradução juramentada”, explica Luiz Vergani. A pior coisa que pode acontecer no exterior é defrontar-se com um guarda que não consegue entender o que está lendo, e perder um tempão parado na estrada.

Procure se informar também sobre as regras de trânsito, principalmente as de conversão e de cruzamentos, que são diferentes das do Brasil. Por exemplo, se você cometer alguma infração em algum país estrangeiro, como Uruguai, Argentina ou a maioria dos europeus, terá de pagar a multa em dinheiro diretamente para o guarda. Nos Estados Unidos é cobrada no ato por meio de cartão de crédito. Uma dica para não ser surpreendido durante o trajeto é consultar

os sites de cada país por onde irá passar para ver detalhes da legislação e a relação de documentos exigidos.

É uma lista infindável para lembrar. Só de ler já dá uma certa preguiça, mas só o fato de fazer uma viagem como esta já é bastante compensador. Posso lhe garantir que será uma viagem inesquecível e um grande aprendizado de vida.

Agências especializadas

De um tempo para cá cresceu muito o número de agências especializadas em viagens internacionais com motos no Brasil. Os pacotes envolvem desde roteiros especiais em grupos, pré-elaborados, com bilhetes aéreos e praticamente tudo incluído, ou saídas do país de origem (caso específico do Mercosul), até a locação de motos no exterior, para quem quiser criar o seu próprio percurso.


Além de abreviar o tempo de planejamento e preocupação com detalhes burocráticos, essas agências cuidam basicamente de tudo, como reserva de passagens, aluguel de motos, alimentação, hospedagem, segurança e socorro mecânico, dando todo suporte e apoio técnico aos motociclistas. Os roteiros são temáticos e envolvem desde excursões, passeios e aventuras de longa distância por lugares exóticos, rodovias famosas e parques nacionais, até rotas turísticas, tendo como foco principal música, vinícolas, gastronomia e outras atrações.

Nos Estados Unidos, por exemplo, o roteiro preferido pelos brasileiros é a lendária Rota 66, famosa estrada interestadual que interliga a Costa Leste à Costa Oeste americana, que ainda exerce grande fascínio nos motociclistas. Num dos pacotes da Apex Travel, o grupo parte de Los Angeles, passa pelo Grand Canyon, Monument Valley, incluindo os melhores trechos da Route 66, depois segue para Las Vegas, num total de 2.395 km. “É o percurso mais procurado, principalmente por aqueles que fazem a sua primeira viagem para os Estados Unidos”, afirma Luiz Vergani, diretor empresa de São Paulo, considerada uma das mais conceituadas do gênero no país.

Especializada na locação de motos no exterior e em roteiros na América do Sul, Europa e Estados Unidos, a Apex Travel também tem outros percursos bem interessantes, que envolvem as sinuosas estradas da Califórnia, de Los Angeles a São Francisco, ou um circuito na Flórida, que parte de Miami, passa por Orlando, Naples e Key West, com destino final em Miami.

No Mercosul, as rotas mais ofertadas pelas agências em geral são a Patagônia, o deserto do Atacama, com passagem pelos lagos salgados (os salares) e geiseres, na Bolívia, a travessia da Cordilheira dos Andes, por Mendoza (na Argentina), a rodovia Transoceânica, que liga o Brasil ao Peru, até o Pacífico, e as cidades incas de Cuzco e Machu Picchu, também no território peruano.


Só para dar uma ideia, entre as opções oferecidas pela Apex Travel se destaca também a Rota do Blues, um percurso de cerca de 2.000 km que sai de Atlanta e passa pelas cidades de Nashville (onde ficam as mais famosas e antigas gravadoras dos EUA), Memphis (berço do ritmo musical, que fica perto de Graceland, onde viveu Elvis Presley), Vicksburg (onde fica o museu do Blues) e típica e musical New Orleans.

O trecho mais desafiador, afirma Luiz Vergani, é o Tail of the Dragon (Rabo do Dragão), uma parte sinuosa da rodovia situada junto ao Parque Great Smoky Mountains, que reúne 318 curvas em apenas 11 milhas (16 km), considerada uma das melhores estradas para pilotar motos. Segundo ele, o roteiro não se resume apenas a música, envolve também turismo e gastronomia.

O pacote inclui passagem aérea ida-e-volta, dez noites de hospedagem, oito diárias de locação de motos com quilometragem livre, traslados, equipe com guia brasileiro, líder de comboio (road captain), veículo de apoio com carretinha, moto reserva, transporte de bagagens, taxa de retorno e seguro viagem.

As motos devem ser equipadas, de preferência, com para-brisa, capacete aberto e bolsas laterais. O viajante pode escolher entre modelos da Harley Davidson, Honda e BMW. Não estão incluídos a obtenção de vistos e passaportes, taxas aeroportuárias, proteção das motos, alimentação, combustível e entradas para parques e outras atrações. O grupo é limitado a apenas 15 pessoas, por isso a necessidade de se fazer a reserva com bastante antecedência.

Os preços divulgados no site da empresa (em vigor em março deste ano) vão de US$ 4.895 para motos Harley-Davidson e US$ 5.195 para motos Honda e BMW, com acomodação em apartamento duplo, a US$ 5.595 (Harley) e US$ 5.895 (as demais) para individual. O acompanhante garupa paga US$ 2.595. Todos os participantes devem utilizar roupas e equipamentos apropriados para a aventura, ter mais de 21 anos e possuir carteira de habilitação válida. Mais informações com a Apex Travel, pelo site www.apextravel.com.br ou pelo telefone (11) 3722-3000.

Como a Apex, existem várias outras agências no país, que comercializam pacotes já previamente definidos e abertos, ou fazem pool com locadoras no exterior, principalmente na Europa e Estados Unidos.

A agência paulista i-Bike Motorcycle Adventures (tel.: 11-3815-2488 e 99601-4959), que tem como sócios o consultor de planejamento Renato Bicudo e o piloto e mecânico Chrystiano Pereira, da Garage Metallica (oficina de customização e preparação de motos Harley-Davidson de São Paulo), é especializada em pacotes personalizados e define a rota de acordo com a indicação de clientes ou grupos.

“É só informar o roteiro, número de dias disponíveis, que montamos o pacote. Cuidamos de toda a burocracia, documentação, expedição da Carta Verde, permissão internacional para dirigir no exterior e todos os detalhes da aventura para a pessoa não ter trabalho algum. Fazemos reservas de hotéis, de restaurantes, atrações e passeios. Também prestamos consultoria para quem quiser viajar por conta própria”, afirma Renato Bicudo.

Este mês, o empresário retornou de uma viagem de 16 dias e 6.000 km com um grupo de quatro pessoas pela Argentina e Chile. O grupo saiu de Salta, passou por Mendoza, cruzou a Cordilheira e seguiu até Puerto Montt, para depois retornar via Bariloche. Para outubro, sua agência prepara um roteiro de 10 dias, que sairá de São Francisco, na Califórnia, passará pelo Napa Valley, onde estão previstas visitas a vinícolas e ao Yosemite Park, e na volta termina em São Francisco. No momento, sua agência desenvolve o planejamento de uma viagem, para daqui a um ano, encomendada por um grupo de interessados, que sairá da Costa Oeste do Canadá e irá até o Alasca.

No caso da i-Bike, nos destinos para o Mercosul o cliente vai com sua própria moto. Nesta recente viagem pela Argentina e Chile, os participantes foram de avião até Salta, onde pegaram suas máquinas. No fim, em Bariloche, elas foram colocadas numa carreta e retornaram ao Brasil.

“Nosso foco são as viagens customizadas, com roteiros flexíveis. Para isso, contamos com guia para o comboio de motos, carro de apoio, assistência mecânica e equipamentos de primeiros socorros”, explica Renato Bicudo.

O roteiro mais procurado na i-Bike é do deserto do Atacama, mas há outros na América do Sul, que envolvem Mendoza, Bariloche, Cordilheira dos Andes e lagos chilenos.

O perfil dos clientes dessas agências é conhecido: pessoas que não têm tempo disponível para preparar suas viagens e que procuram empresas e profissionais especializados para organizá-las.

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