Por: Eduardo Viotti
A versão XCa é topo de gama nas aventureiras da marca inglesa. De engenharia, acabamento e tecnologia embarcada muito sofisticadas, ela vem para arrasar.
A britânica Triumph continua construindo uma imagem sólida no Brasil, mesmo em tempos de pandemia. Afinal, o uso da motocicleta acerta a mão na mobilidade em tempos de isolamento social. A Tiger 1200 em qualquer versão já é o máximo no universo inglês de motocicletas, e ainda mais nesta unidade avaliada, a XCa, a mais completa em termos de equipamentos, componentes de alta qualidade e eletrônica embarcada.
A supertrail britânica vem concorrer diretamente com a alemã BMW R 1250 GS, líder do segmento, e com as adventurers Ducati Multistrada 1260, Yamaha Super Ténéré 1200, Honda Africa Twin, Kawasaki Versys 1000 GT e até com a meio sumida KTM 1290 Super Adventure R.
O motor é um tricilíndrico, configuração típica das motos não “clássicas” da marca, com 1.215 cc. Os três cilindros estão dominando a cena nos automóveis econômicos, justamente pela sua capacidade de entregar maior torque em baixa que os tetracilíndricos, mantendo a possibilidade de subir vigorosamente de rotações. Este aqui desenvolve 141 cv a 9.350 rpm, e um pico de torque de 12,44 kgf.m a 7.600 rpm. É um canhão. Com câmbio –preciso, macio e bem escalonado– de 6 marchas e transmissão final por cardã, todo esse torque é bem aproveitado: o cardã tem menos perdas mecânicas de potência que os demais sistemas de transmissão final, como corrente e correia, além, é claro de exigir menos manutenção, com alta confiabilidade. Esse cardã é uma cutucada de leve na rival BMW, que o adota desde sempre.
A embreagem é bem macia, com acionamento hidráulico e TSA, Triumph Shift Assist, o conhecido quick shift, que permite mudanças para cima e para baixo sem a necessidade de acionar a alavanca de embreagem.
A Eletrônica embarcada é sofisticada: permite a eleição entre seis modos de pilotagem: Off-Road Pro (para terra, gás total, sem controle de tração e sem ABS), Road (estrada), Rain (chuva), Off-Road (para terra, menos agressivo), Sport (desempenho máximo e alta rotação) e Rider, no qual o piloto pode programar a entrega de potência e a entrada dos sistemas de segurança pela maneira com que prefere pilotar. A XCa vem equipada com silenciador de escape da marca Arrow inglesa revestido em titânio e fibra de carbono. Só essa peça custa mais ou menos o preço da minha moto.
CHASSI E SUSPENSÕES
O quadro é em treliça de tubos de aço com viga superior que usa o motor como elemento estrutural. É bem sólido e leve –a moto está 10 kg mais leve que a versão anterior.
A suspensão é semi-ativa, eletrônica. Para começo de conversa, o garfo dianteiro invertido de 48 mm de diâmetro é ajustável eletronicamente. Com conjuntos da grife WP austríaca, monta um monobraço atrás (que envolve o cardã) e o ajuste de pré-carga da mola é feito eletro-hidraulicamente.
O curso na frente é de 190 mm e atrás, de 193 mm. O funcionamento é brilhante, permitindo ousadias tanto no uso fora de estrada, como pequenos saltos e superação de irregularidades importantes em alta, quanto nas curvas de asfalto, de qualquer diâmetro.
Os ótimos pneus Metzeler alemães contribuem para a estabilidade. Estão montados em rodas raiadas de aros de alumínio –19 polegadas de diâmetro na frente e 17” atrás– daquele tipo que permite a aplicação de pneus sem câmara, pois os raios não atravessam o aro.
Os freios também são avançados e agregam sistema ABS de curvas, a última palavra. A Triumph Tiger 1200 XCa aplica dois discos de 305 mm na dianteira, mordidos por pinças da grife italiana Brembo monobloco de 4 pistões. Na traseira, pinça dupla da japonesa Nissin em um disco de 282 mm. Conjunto impecável, capaz de deter os mais de 300 kg da moto em marcha (são 242 kg a seco) com segurança.
O tanque tem capacidade para 20 litros, o que permite boa autonomia, dependendo da maneira com que se viaja. Na “moralzinha”, andando dentro dos limites legais e sem forçar nas largadas e retomadas, ela faz algo em torno de 20 km/l. Se o piloto enrolar o cabo e usufruir do poderoso tricilíndrico, o consumo se eleva bastante, aproximando-se de algo como 13 km/l. Bem, energia não sai de graça…
ELETRÔNICA EMBARCADA
A Tiger 1200 XCa é cheia de detalhes, o que torna até mesmo difícil descrevê-la. É daquele tipo de moto que você não consegue domar se não ler o manual…
O painel de instrumentos é em TFT, colorido, e a tela de 5 polegadas é ajustável em ângulação, para evitar que o reflexo da luz solar atrapalhe a leitura (e também para ajustar-se perfeitamente a diferentes talhes de piloto). Você pode escolhar três aspectos diferentes para a tela. Com conta-giros analógico, como manda o figurino, traz computador completo. Inclui velocímetro, consumo instantâneo e médio, autonomia restante, nível de gasolina, marcha em uso, indicador de manutenção, relógio e termômetro do radiador.
Os punhos são retroiluminados, o que é chique e útil à noite e incluem um joystick de 5 posições para os comandos eletrônicos. A iluminação é toda em LED e esta versão aporta faróis auxiliares, ótimos em viagens e sob chuva ou neblina. O farol principal é adaptativo em curvas.
Para mais equipamentos eletrônicos, a Tiger traz tomada12V e plug USB, para carregar smartphones. O para-brisa, desenhado em túnel de vento, é ajustável elétricamente e cumpre perfeitamente sua função na chuva e no frio, além de melhorar o coeficiente aerodinâmico em alta.
O cavalete central é de série, uma “mão-na-roda” para um eventual reparo na estrada (o mais comum é a troca da câmara de um pneu furado). A versão inclui ainda protetores de motor e laterais tubulares, que podem diminuir o prejuízo em uma queda parada ou a baixa velocidade.
O conforto é assegurado por manoplas e assentos (regulável em altura) aquecidos. Está certo que esse recurso é mais útil na Europa, mas no Sul e Sudeste do Brasil , especialmente nas famosas serras catarinenses, o frio é cortante.
Um último detalhe legal é o controle de auxílio para partida em rampa. Se você já dirigiu uma moto alta e pesada, sabe que sair no trânsito em uma subida íngreme pode ser cruel. Se você precisar tirar o pé do freio traseiro, a roda dianteira, mesmo travada, começa a escorregar, e a moto desce. Com esse sistema, não há tal sufoco…
Bem, a moto é empolgante, um cruzador a serviço de Sua Majestade, a Rainha. Poucas coisas são mais legais para viajar –e a lista de concorrentes é poderosa.
A Triumph Tiger 1200 oferece versões menos equipadas, cujo preço começa em 60,7 mil reais (a XR). Essa XCa é vendida por 85,2 mil reais. É uma tonelada de dinheiro, mas o valor é compatível com a concorrência e o nível de tecnologia empregado.
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