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African Safari

Por: Cezar Augusto de Souza Oliveira (texto e fotos)

Viaje através da África do SUl com um grupo de motociclistas brasileiros e crie coragem para aventurar-se também

O continente africano tem vários nomes e inúmeras facetas: vai da miséria absoluta à riqueza inacreditável, da malária aos diamantes. É o mais velho e ao mesmo tempo o mais inexplorado.

Como será então “motocar” por uma parte dele? Um grupo de 19 brasileiros em 15 motos descobriu a resposta.

Integrantes dos clubes Carpe Dien Mototurismo de São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba; Trikers de São Paulo; e do Carpe Diem Motoclub de Ciudad del Este, no Paraguai, foram os sortudos.

Cinco dias, 1.400 quilômetros, milhares de curvas, algumas dezenas de restaurantes e muitos litros de vinhos maravilhosos foram consumidos por estes aventureiros.

Tudo começou quando eu, Cezinha, integrante do CDMT/SP, assisti no programa “Momento Moto” (Record News) uma reportagem sobre a viagem que o Dinno Benzatti fez naquela região com a empresa Rumos Motorcycles, e fiquei boquiaberto. Daí a jogar a ideia para a galera e montar o grupo foi questão de horas.



O objetivo do passeio era um tour de moto com gastronomia de alta qualidade em hotéis diferenciados. Pagamos por isso e tivemos tudo.

De São Paulo, partimos para Johannesburgo, uma das capitais da África do Sul, e de lá para Cape Town, a Cidade do Cabo. Trata-se de uma cidade cosmopolita, enorme, com arranha-céus e tudo que qualquer grande cidade oferece, entre bares, restaurantes e vida noturna agitada.

Esquece tudo o que você imaginou de pobreza e miséria. Bem, isto existe na África, sim, mas não lá. Por conveniência de agenda, escolhemos fazer esta viagem no Carnaval, e chegamos lá num belo e ensolarado sábado.

Nos dois primeiros dias, em pleno fim de semana carnavalesco, saímos em grupo para conhecer a cidade, principalmente o cais, animadíssimo, onde existem muitos restaurantes, artistas de rua e uma roda gigante enorme, que pode ser vista de quase todos os pontos da cidade. O local se chama Waterfront e é imperdível.

Já no primeiro contato, um detalhe nos chamou a atenção –o vento. Em quase todos os pontos da cidade havia a presença dele, sempre forte e implacável. Quem disse que Chicago, nos EUA, é a “cidade do vento”, não conhecia a Cidade do Cabo (depois viemos a descobrir que Port Elizabeth é ainda pior).



Na segunda-feira, todos acordaram dispostos a pegar estrada e, como sempre, indago, porque não mostramos a mesma disposição para trabalhar que temos para viajar?

Das 15 motos, apenas três eram BMW, o restante Harley- Davidson. O grupo se dividiu, para que cada qual fosse buscar as suas respectivas montarias.

Foi neste dia que conhecemos o Chris e o José, guias da empresa TGK Travel (operadora brasileira que organizou a viagem), o primeiro era um cara de quase dois metros, que só fala inglês. Seria o responsável por puxar o grupo. O segundo era um senhor português de 1,65 m.

Claro que eu os apelidei de Montanha e Miudinho (invertendo a lógica, obviamente), no final o “miudinho” acabou sendo rebatizado para Tropeço (personagem da série de TV “A Família Addams”).

Após todos os trâmites legais e burocráticos, partimos da loja da Harley-Davidson de Cape Town para encontrar os demais integrantes do grupo numa das várias vinícolas que viríamos a conhecer.

Briefing rápido e bora rodar, afinal foi para isto que viemos. O destino do 1º dia foi uma cidade chamada Montagu, a pouco menos de 200 km, com direito a uma parada numa vila pitoresca chamada Franschhoek, onde experimentei carne de avestruz pela primeira vez. Aliás, além de muitas vinícolas, fazendas de avestruz é o que mais se encontra pelas rodovias.

No segundo dia, o destino foi Oudtsshoorn, quase 300 km por estradas cada vez mais lindas e deslumbrantes com direito a retas infindáveis e uma parada obrigatória no Ronnie’s “Sex” Shop. Sim, você não leu errado.



O Ronnie era um cara pacato que vendia legumes na beira de uma estrada no meio do nada, mas ele tinha uns amigos… “Amigos” que, certa madrugada, após uma bela cachaçada, resolveram sacaneá-lo e incluíram o “sex” entre o Ronnie’s e o Shop.

A partir da manhã seguinte, turistas passaram a parar por curiosidade. O cara, que de bobo só tem os amigos, aproveitou a oportunidade e fez do local um ponto de parada no qual turistas do mundo todo penduram de tudo, principalmente sutiãs. São milhares deles, de todos os tipos e tamanhos, pendendo do teto. Também é possível escrever o que quiser nas paredes, isto é, se achar um espacinho. Eu achei e deixei minha recordação.

O Ronnie’s está para a Rota 62 sul-africana como o Bagdá Café está para a Rota 66 norte-americana.

O almoço foi no Smitswinkel Farm Village, um misto de restaurante com antiquário, ao estilo biker.

Quando digo calor, me refiro a queimar os dedos nos manetes da moto. Sem exagero, isso ocorreu de fato.

O hotel desta cidade foi o Swartberg Country Manor, que fica nos pés de um passo com o mesmo nome e é de uma tranquilidade mórmon. Claro que essa tranquilidade acabou quando chegamos e ficamos bebendo na beira da piscina até tarde.

O jantar neste hotel foi um dos melhores: gastronomia de altíssima qualidade com sabores inesquecíveis, sob o céu mais estrelado que já vi na vida.

No terceiro dia o destino foi Hermanus, cidade à beira- -mar, a quase 400 km de distância, então partimos cedo.

O almoço foi cordeiro, numa cidade chamada Swellendam em que, para nossa sorte, havia uma comemoração cívica. Pudemos acompanhar o desfile de escolas, cavalos, charretes, carros antigos; só faltaram as motos.

Hermanus é uma linda cidade à beira mar. Apesar de ter praia, a vista é esplendorosa. Pudemos apreciar o pôr do sol da janela dos nossos quartos ao som das ondas que batiam implacáveis na praia.

À noite, saímos para jantar e conhecer o centro da cidade. vSeria aqui que faríamos o mergulho entre tubarões brancos, mas, para tanto, seria necessária a adesão de pelo menos dez pessoas –e só eu queria… Fica para a próxima.

O penúltimo dia de viagem foi para a Cidade do Cabo. Quando achamos que nada mais de novidade veríamos, surpresa! Que estrada linda. Cada curva uma paisagem diferente, uma vista inacreditável.

No final do dia, chegamos a Cape Town, trânsito caótico e vento implacável. Quando digo vento forte, quero dizer estar parado no trânsito e quase cair da moto, e aí vai uma daquelas coisas que só acontecem comigo: pendurei na janela do quarto do hotel (9º andar) as meias, cuecas e a bota, para tomar sol e secar.

O vento derrubou até um pé da bota que, por sorte, não machucou ninguém. Na verdade, só descobri porque fui até a janela ao escutar os assobios dos garis me chamando para buscar a botina… Quase volto descalço para casa.

O ultimo dia de moto foi com destino ao Cabo da Boa Esperança, saindo da cidade, que é cercada por montanhas, em sentido sul, até um parque nacional (entrada paga) para atingir um dos pontos mais meridionais do continente (sim, dependendo da maré outros pontos ficam mais ao sul).

E foi aí que vimos o que é vento lateral de verdade. Consegui filmar o momento exato que cinco motos foram jogadas para a contramão de uma só vez. Tenso, mas afinal deu tudo certo. Ah sim, na entrada do parque o Colombo “comprou um terreno” por causa do vento.

Quando se chega no centro do parque já se veem os anúncios para ter cuidado com os babuínos: são famintos e bravos, muito bravos, quando contrariados.

Por um pequeno bonde se chega ao cume da montanha e a vista é inexplicavelmente linda: 360º graus de natureza. Ficamos lá por alguns minutos e depois fomos comer um lanche para seguir viagem, pois ainda íamos visitar um santuário de pinguins e devolver as motos (era sexta-feira, então o trânsito estaria daquele jeito).

Antes disso, paramos para fotos na clássica placa “Cape of Good Hope” (Cabo da Boa Esperança). Muita diversão e nada de eu conseguir explicar para a nossa guia Analia o que significa a expressão “dobrar o Cabo da Boa Esperança”. O santuário dos pinguins é legal, mas nada surpreendente.

De volta à cidade, trânsito pesado. Nosso guia Chris, no dia anterior, havia sido avisado por mim que estávamos acostumados a pegar corredor mesmo com motos grandes, mas acho que ele não colocou muita fé.

Com cinco minutos derretendo no trânsito, perguntei a ele se podíamos seguir pelo corredor, que eu tinha o endereço da Harley no GPS da moto. Ele deu ok, adivinhem.

Sentamos a mão e ele quase ficou maluco tentando nos acompanhar. Somente um de nós ficou para trás e juro que não contarei que foi o Cernic.

No fim deu tudo certo, houve tempo para devolver as motos, fazer compras e sacanear o bração.

Para comemorar o passeio fomos jantar num restaurante que era um antigo batalhão do Corpo de Bombeiros: comida da melhor qualidade regada a cervejas locais.

Para a maior parte do grupo, o passeio terminou com a sensação de quero mais e a certeza de que é possível sim ter uma sequência de dias em que um seja melhor que o outro, que o idioma não é empecilho, que o companheirismo restou reforçado e que viajar em grupo é muito prazeroso.

Eu e outros sete companheiros prosseguimos para fazer um safári, mas aí de “coxinha”, sem moto e sem as emoções do parágrafo anterior. Bem, nem por isso deixou de ser outra experiência inesquecível.

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