Alexandre Buckan é designer sênior da alemã BMW. Ele supervisionou o projeto da nova G 310, que marca a estreia da empresa nas baixas cilindradas. Aqui, fala um pouco sobre a tarefa e o prazer de desenhar motocicletas.
Alexander Buckan é designer sênior da BMW Motorrad em Munique, na Alemanha. Apesar de a produção de motocicletas ser na fábrica de Berlim, o departamento de design é sediado no local de origem e da sede da marca, a Baviera, no sul do país. Buckan esteve no Brasil no final do ano passado para apresentar o protótipo da BMW G 310, em versão stunt (fotos desse conceito podem ser vistas na reportagem sobre essa modalidade esportiva, também chamada wheelie, nesta edição). A marca fez essa apresentação em caráter mundial no Brasil, prestigiando o mercado.
O designer nos concedeu uma rápida entrevista sobre como funciona o processo de criação de uma motocicleta. Ele supervisionou os trabalhos da G 310
Concept Stunt à frente de uma equipe, e destaca a participação de Vianney Selosse, projetista francês da BMW-Motorrad. O piloto Chris Pfeiffer também colaborou nesse desenvolvimento, nas especificidades relacionadas à prática do wheelie.
Em relação à algumas particularidades de projeto das outras motos da BMW, como o conjunto de suspensões da R 1200 GS, com a Telelever na dianteira, e os farois assimétri
cos de muitos modelos, Buckan diz que é importante que a
marca preserve uma identidade própria, inconfundível.
O garfo Telelever, segundo o designer, tinha um desempenho muito superior às suspensões motociclísticas convencionais na época de sua apresentação, mas que hoje já não se destaca tanto diante das novas bengalas invertidas de última geração. Mas Buckan destaca que um bom garfo invertido é um produto disponível no mercado, oferecido por fornecedores da indústria, e qualquer produtor de motocicletas pode comprá-lo e aplicá-lo em seu projeto. Isso não acontece com a suspensão Telelever, exclusiva da marca e símbolo de um projeto avançado de engenharia. Parte de uma poderosa identidade, portanto.
Buckan também destaca a importância da aerodinâmica, mesmo nos modelos roadster, denominação que a empresa prefere, ou naked/street, sem nenhuma (ou com muito pouca) carenagem plástica. De acordo com ele, a BMW usa o túnel de vento avançado de que dispõe em Munique para o projeto de todas as suas motos, não apenas as grandes touring ou as superesportivas, e calcula para cada uma delas o coeficiente de penetração aerodinâmica, o Cx. “Isso influi no consumo, na velocidade, é muito importante para nós”, afirma.
O projeto de uma nova motocicleta começa a partir de pesquisas e sondagens do departamento de marketing, que detectam o que o mercado está querendo no momento, ou como tendência, em futuro próximo. O público alvo também é definido nesse momento, assim como fatores culturais do mercado para o qual o projeto vai ser direcionado, embora Buckan ressalve que, atualmente, quase todos os projetos da marca são globais, ou seja, são vendidos nos mais diversos mercados pelo mundo. A partir dessa ideia, os grupos de engenharia e design são acionados e o projeto começa a tomar forma, inicialmente com os rascunhos desenhados, depois com mockups em três dimensões na escala real e finalmente a construção de protótipos.
Alexander acredita que projetar motos envolve uma paixão que não existe em projetos de outros produtos. “Não consigo me imaginar desenhando uma lava-louças, por exemplo. Assim como vocês escrevem sobre motos, eu projeto motos.” Ele riu à beça quando lhe perguntamos como seria para ele desenhar uma lava-louças!
Apesar de apontar as nakeds de desenho clássico como uma tendência atual no design de motocicletas, Buckan diz que um designer de produtos tão sofisticados e repletos de significados quanto as motos tem de pensar em prazo de dez anos à frente. E, em termos de futuro, ele não acredita que a propulsão elétrica é para já, apesar do sucesso atual dos automóveis elétricos. “É completamente diferente a abordagem de motorização em carros e motos. Nesse sentido, o piloto de motos é mais conservador, ele quer sentir o motor, ouvi-lo. Há mais romantismo mecânico, se você me entende.”
Nós entendemos Alexander, nós entendemos!
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