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Iron 1200

Atualizado: 21 de mai. de 2020

Por: Eduardo Viotti

A Harley-Davidson Iron 1200 é a última de uma geração de motocicletas norte-americanas brutas, sólidas, rudes!


A família Sportster da Harley-Davidson tem sobrevivido incólume à revolucionária onda de mudanças que a empresa tem imposto à sua gama de produtos. Lançada em 1957 para ser a linha entry level na marca, a Sportster manteve o motor Evolution, ou simplesmente Evo, a única linhagem a não adotar o Milwaukee Eight, de oito válvulas, bem mais moderno.

A Iron 1200 resgata os valores que os puristas aficionados da marca valorizam e cultivam com rigor eclesiástico: estilo despojado e clássico, simplicidade mecânica e pouca eletrônica, nada de componentes plásticos, ruído grave no V2, vibrações e engates de câmbio ruidosos. Ou seja: é uma Harley-Davidson “raiz”. Ela custa a partir de 43,9 mil reais e a marca oferece uma enorme variedade de opcionais e acessórios para a personalização e customização desse modelo.

E, se você não é “harleyro”, não se deixe levar pela conversa de que a Sportster “não anda” ou “não faz curva”. A Iron 1200, com seu torque de 9,5 kgf.m a baixíssimos 3.500 giros (para um peso a seco de 248 kg) sai na frente de muita moto esportiva. Não é um motor de altas rotações, mas a Iron é séria concorrente a campeã nas arrancadas de farol. A versão de 1.200 cc tem 36% mais torque que a de 883 cc, que já é divertida de acelerar nas largadas.

Sua dirigibilidade é surpreendentemente leve para uma moto de 1.200 cc: o torque disponível logo a partir da marcha lenta e as relações acertadas do câmbio de 5 marchas exigem poucas trocas e permitem muito divertimento nas retomadas. Ela chega a ser ágil no trânsito, exceto, é claro, se for preciso serpentear entre os carros parados.



Em curvas, especialmente de raio mais amplo, a Iron vai bem, apesar de raspar as pedaleiras –e o escape, do lado direito– com certa facilidade. A boa estabilidade se deve em grande parte a dois fatores importantes: a rigidez da suspensão traseira, que chega a incomodar em pisos esburacados; e aos excelentes pneus Michelin feitos especialmente para a Harley, com o logotipo da barra e do escudo estampado em baixo relevo na borracha. São mesmo muito bons pneus, com bom desempenho em todo tipo de piso e situação. É curioso notar a grande diferença entre o diâmetro das rodas dianteira, de 19 polegadas, e traseira, de apenas 16 polegadas. Essa diferença é mitigada pelo formato dos pneus sem câmara, com a adoção de um 150/80 atrás e de um 100/90 na dianteira. As rodas de alumínio são pretas, como toda a decoração do modelo, com nove raios finos.

O guidão bem alto (a Harley chama esse estilo de Mini Ape, algo que, em uma tradução grosseira significaria “pequeno símio”, em português) exige alguma adaptação, especialmente se você vem de pilotar uma esportiva com semiguidões. Ele ajuda a compor o visual de moto customizada. Mas, ao contrário do que sugere, não cansa mesmo em viagens longas, e se revela inesperadamente gostoso de empunhar, expondo o tórax ao vento que a pequena carenagem de farol ao estilo Café Racer não chega a desviar. Na mesma linha estilística segue o assento individual, quase um selim, que firma bem o piloto, mesmo nos empuxos mais poderosos. O único senão é que, depois de várias horas sentado, quando o corpo começa a pedir uma mudança de posição, não há muita possibilidade de variação (tipo jogar o corpo mais para trás, ou mesmo apoiar os pés nas pedaleiras de garupa, que não estão instaladas nesta versão).

De fato, a autonomia da Iron 1200 exige paradas a cada 200 km, mais ou menos, o que já vai servir para esticar as pernas e minimizar algum eventual desconforto.

Com um tanque de 12,5 litros, dos quais você vai usar 10 e deixar algum para uma eventualidade (é claro), e um consumo da ordem de 15 quilômetros por litro, em média, com possibilidade de chegar a 18 km/l (média) em uma pilotagem bem sossegada, não vai dar para viajar por mais de duas ou três horas sem parar para abastecer.



A pintura do tanque fala ao coração de velhinhos motociclistas, como yo mismo… Ela reproduz o grafismo que víamos estampado nas AMF Harley-Davidson SS 125 que a Motovi montava em Manaus, com motor monocilíndrico dois tempos de 125 cc refrigerado a ar e um estilo chopper único na categoria, à época. Nessa época a Harley tinha sido vendida ao grupo aeronáutico italiano Aermacchi, mas logo depois retornou ao capital norte-americano.

Reclamar de vibrações é pura frescura para um verdadeiro harleyro e não serei eu a fazê-lo (embora não seja harleyro convicto, sou um admirador da força da marca. Gosto mesmo é motores de quatro cilindros em linha em motos de estrada). Mas a verdade é que as vibrações de baixa frequência dos grandes V2 não incomodam e compõem a mística do torque sempre presente das Sportster.

O ruído rouco, compassado e grave dos escapes individuais (com um catalisador em cada ponteira) é música para ouvidos apaixonados e alcança uma audição quase física, interna, corporal. É divertido. Estilosa, a Iron 1200 é a perfeita introdução de qualquer motociclista ao universo poderoso e carismático das Harley-Davidson. Com uma pegada retrô e Café Racer que ultrapassa os aspectos estilísticos e encontra raízes na simplicidade mecânica e de projeto, o modelo é forte, original, repleto de autenticidade. Gosto de coisas genuínas!



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